Resumo: Neste texto, o autor compartilha sua experiência de estabelecer o hábito de escrever mil palavras por dia. Ele discute a importância de seguir escrevendo todos os dias, independentemente da qualidade ou quantidade do que está sendo escrito. O autor também oferece algumas dicas práticas, como reservar um lugar e um horário específicos para escrever e encontrar um gatilho para lembrar de escrever. Além disso, ele destaca os benefícios de escrever diariamente, como conhecer melhor seus pensamentos, desenvolver confiança nas conversas e melhorar a compreensão musical e a interpretação de texto.
Comentário: O autor aborda de forma clara e objetiva a importância de escrever todos os dias, mas falta um pouco de profundidade na discussão. Ele menciona que o livro de gramática do Chico e da Wilma Moura o inspirou, mas não explora a influência dessa leitura em seu processo de escrita. Além disso, embora ele mencione a meditação como uma prática que o ajudou a estabelecer o hábito de escrever, ele não aprofunda como essa conexão funciona. Seria interessante ter mais exemplos pessoais ou citações de outros autores para enriquecer a discussão.
Se eu fosse parafrasear Flaubert eu diria, não escreva para ser melhor, ou como as crianças, para se entreter… escreva para viver. Ainda assim, desenvolvendo o hábito de seguir escrevendo você vai se tornar uma pessoa melhor e você vai se entreter. Mas como uma janela que não é nada além de um buraco na parede, estes benefícios não são nada mais do que a capacidade de se abrir e escrever como se não houvesse amanhã.
Eu já escrevo em meu diário há alguns anos, mas nunca me havia feito o desafio de escrever mil palavras por dia até alguns meses atrás. Eu me inspirei após ler este livro de gramática do Chico e da Wilma Moura; ainda que eu esteja longe de escrever com acurácia como eles pedem, só ler este livro e alguns artigos, aqui do Medium mesmo, já foi suficiente para me impulsionar a escrever todo dia por uma hora; mil palavras no mínimo.
Isso não foi tão difícil para mim como pode ser para os outros, no entanto; eu tinha deixado o terreno preparado com alguns estudos sobre hábitos e também algumas práticas como a da meditação, que são ótimas para estabelecer outros hábitos. Como recomendação deixo algumas dicas:
Não se preocupe com a qualidade ou quantidade — mantenha o foco de fazer aquela coisa todos os dias, não importa como, não importa o quê. Para cumprir este objetivo eu escrevia no celular se não houvesse notebook e escrevia em qualquer oportunidade como banheiro, ônibus, intervalos de estudos. Reserve um lugar e um horário; no meu caso era a mesa da sala. O notebook após o café da manhã e antes de ligar a internet. Também fiz uso de alguns lembretes no celular e aplicativos como o streaks e o habit hub. Se preciso for, tente se lembrar constantemente por que você quer tanto adquirir aquela habilidade. Mas não foque só nisso, tente se lembrar que aprendizagem de habilidade é, antes de tudo, repetição após repetição. Tente deixar um gatilho que te faça lembrar de escrever. Esse gatilho vai acionar a memória da repetição e tornar mais fácil a transição de atenção dispersa para atenção focada.
No meu caso o gatilho era apenas observar que eu estava pulando de pensamento para pensamento sem me aprofundar em nada, gerando ansiedade. Sim isso é uma lição das práticas contemplativas. Não, não funciona sempre e não recomendo.
Assim, o melhor mesmo é pedir a um companheiro que te cobre todo dia se fez ou não — no meu caso foi ser percebido pela minha esposa que disse “nossa tenho um escritor aqui em casa!” e agora de repente eu era o escritor. Também, eu sabia que como estudante prestes a final de semestre seria muito comum escrever bastante todo dia e, no meu caso que apenas faço isso, um dever.
Mas não apenas isso, pois assim como estudar para uma prova do dia seguinte não é aprender com qualidade, eu sabia que as vantagens eram periféricas e escrever era o objetivo principal, ainda que parecesse sem motivo durante a atividade; algumas coisas só aparecem depois de meia hora escrevendo e outras tantas depois de ter escrito, durante a revisão (essencial segundo o livro dos Moura). Seguem umas lições:
Escrever todo dia me ajudou a conhecer meus pensamentos com maior precisão, pois alguns deles só se desenvolviam através da escrita, bem como as emoções subjacentes a eles, e eu só pude ver a maturidade deles após uma hora de escrita e revisão.
Isso se traduz em maior confiança nas conversas e outros usos do discurso - até como fazer memes. Ainda que alguns de nossos condicionamentos mais antigos estejam comandando muitas de nossas respostas ao ambiente, escrever te ajuda se explicar melhor e até a ouvir melhor e entender os outros.
Como estudante é importantíssima, pois escrever é parte essencial, bem como ler, para qualquer universitário; as normas ABNT podem até continuar atrapalhando o fluxo criativo, mas você se sairá muito melhor no plano geral.
Como dito anteriormente, é base para novas formas de discurso, como os memes. Também, escrever todo dia vai te dar um salto qualitativo em relação a compreensão musical e interpretação de texto. Isso se relaciona principalmente com a capacidade de repetição de determinada atividade todo dia.
Surge uma espécie de sinceridade, e com isso eu digo, a capacidade de escrever para si mesmo sem se importar tanto com os outros; o diário, como mencionado anteriormente, onde escrevi para mim mesmo e onde eu muitas vezes era sincero até em demasia, provavelmente é onde nasce essa capacidade de enfrentar a solidão e o tédio através da escrita. Dá muito certo, pois você está criando algo do nada.
Dito isso, eu concluo que compartilhar algumas das vantagens surgidas depois do estabelecimento deste hábito, que é tido por alguns como um meta-hábito, ou seja, um hábito que ajuda construir outros hábitos, é um imenso prazer. Mas hábitos precisam ser melhor estudados e isso é outro assunto que gostaria de discutir.
Hábitos são caminhos neurológicos, atalhos por assim dizer, que o cérebro usa para fazer alguma coisa ou responder a alguma situação. Ainda que o hábito seja usado tanto para boas coisas como para coisas não tão boas, é interessante notar como somos movidos por eles. Mais do que interessante, eu diria essencial, pois é assim que novas sinopses criam novas ideias e novos caminhos neurológicos, o que é melhor que o hábito em si — a força do hábito é incontestável, mas a força por trás do hábito é provavelmente mais poderosa e transformadora que qualquer hábito, e é com ela que eu fico.
- Tirando de letra: Orientações simples e práticas para escrever bem - Chico Moura, Wilma Moura. Companhia das letras, 2017.