Blog de Walker

estudando escrita para valer

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Eu estou estudando redação mais uma vez. É para o concurso, mas também é para ~~mim, que desejo~~ melhorar minha escrita. O concurso é para acontecer em dois meses e meio, mas o treino da escrita é para a vida toda. Escrevendo melhor, com mais clareza e coerência, eu posso me certificar de estar dando a este blog, por exemplo, o tratamento que ele merece. Meu mestrado e projetos de pesquisa na área de geografia, também, muito têm a se beneficiar. Escrever todos os dias, com esmero e cuidado, revisando — uma das minhas maiores fraquezas é ter sempre subestimado a importância da revisão — enfim, escrevendo bem, de modo a criar um círculo virtuoso — melhor escrita leva a melhor pensamento. Melhor pensamento levar a melhor leitura, e assim segue, ad nauseaum.

É engraçado, no entanto, falar de escrita quando temos disponível o equivalente da calculadora para a redação. ~~E de fato, e~~ Eu uso a IA para pequenas coisas como sugerir uma palavra ou uma forma diferente de expressar uma oração, já adianto — mas nessa altura, após um bom tempo de divertida exploração desta ferramenta, posso afirmar que ela não escreve melhor do que eu. Como poderia? Ela sequer entende o sentido verdadeiro das palavras que usa. O Artifical, da Inteligência Artificial, nunca foi tão evidente como agora. Mesmos seus criadores estão aos poucos se afastando do limite que o formato texto impõe para explorar novas possibilidades com imagens, sons e vídeo — a aparente simplicidade do texto não se deixa dobrar facilmente e provavelmente nunca o fará. Como disse um estudioso de literatura digital em uma palestra que vi no início do mês: a ascensão da IA foi um surpresa para todos exceto para estudantes de linguagem.

Mas é difícil não se deixar levar pelos dois lado do hype, especialmente nas redes sociais — um lado abraça e defende sem muitos escrúpulos, outro odeia e faz bullyng com qualquer um que ouse abrir o chatgpt até para consultar ideias de bolo. No fim das contas ambos os lados, por sua radicalidade, parecem fadados a serem esquecidos. Sou da opinião que a diferença entre remédio e veneno está na dose — e a IA, assim como outras tecnologias com potencial disruptivo, não são ruins em sua essência — mas podem assim se tornar se forem adotadas indiscriminadamente. Pode parecer uma platitude tal afirmação, mas essa semana no bluesky uma menina foi chamada de "lambe botas de technobro" só porque disse que no protesto contra IA generativa (grosso modo, estas que copiam habilidades criativas humanas) ninguém leva em consideração o potencial de perigo da IA sendo usada em guerras.

Alguns sites usam badges chamados [texto cem por cento humano], ou coisa assim. É um movimento, ao que parece, e qualquer um pode se afiliar e colocar nos seus blogs. Mas, e é aí que está a pegadinha — quem pode comprovar que qualquer texto destes aí é mesmo cem por cento humano? Nem mesmo os melhores programas de detecção o podem~~, eu adianto~~. Além disso parece um provincialismo alguém começar a rotular-se desse jeito1 — criando uma cisão artificial e desnecessária. E isso aconteceu para cada uma das muitas tecnologias novas na humanidade, incluindo até mesmo o Trem, que algumas pessoas diziam ser "perigoso porque àquela velocidade as pessoas iriam morrer sufocadas".

~~Em resumo... Concluindo a coisa toda... Enfim, escrevendo esse último parágrafo que deveria dar uma sensação de objetivo alcançado após toda essa conversa, e por isso o uso das conjunções, eu poderia dizer, primeiramente (locução adverbial) que esse texto está sujeito a revisão~~. Escrever é, antes de tudo, impregnar-se do processo. O chatgpt pula essa etapa, o que o categoriza como qualquer coisa, exceto escrita. É uma ferramenta, decerto, e que poderia ter feito esse mesmo texto em segundos, e que me pouparia algumas horas e umas chances de pensar2. Ainda assim essa ferramenta não pensa. E se eu poderia falar muito sobre escrita, prefiro me concentrar, para esse pequeno texto, em dizer o que não é. Chatgpt não é escrita embora use linguagem, da mesma forma que a palavra que seu corretor automático sugere ao fim da frase "Hoje eu vou..." não representa você. Mas não sou a favor do purismo na escrita, porque no fim das contas existe uma mensagem para ser passada, e isso é que importa.


  1. NEO — You don't have... — TANK Any holes? Nope. Me and my brother Dozer, we are one hundred percent pure, oldfashioned, home—grown human. Born free. Right here in the real world. Genuine child of Zion." Em retrospecto é até mesmo um pouco digno de vergonha alheia. O herói dessa história indubitavelmente é o Neo, que nasceu na matrix. É a velha discussão existencial de sempre. O homem contra sua condição, etc. 

  2. Escrevi esse texto de uma sentada só, em coisa de 20 minutos, mas passei bons dias pensando nele — e outros tantos dias deixando ele de molho para vir aqui fazer essa revisão. Você pode notar as mudanças porque onde está entre dois sinais de til (~~) eu exluí, e onde está em negrito, eu incorporei. Em itálico, eu o fiz para denotar o estrangeirismo. Muitas mudanças são frutos deste mesmo estudo de redação que ando fazendo. Recomendo o livro Tirando de Letra para quem quiser melhorar sua escrita. 

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