Li esta frase numa revista: “Sentar e contemplar dois punhos que Nosso Senhor criou tão aptos para a ação”. É um poema sobre os desempregados, ele me faz pensar no meu pai. Trilogia de Copenhagen (Ditlevsen, Tove)
Durante o retiro de meditação, as leituras clandestinas que realizei se entrelaçaram profundamente com meus insights e experiências. O livro "Satipatthana: The Direct Path to Realization" de Analayo, por exemplo, reforçou a importância da atenção plena e da contemplação. A ideia de contemplar o corpo, sentimentos, mente e dhammas, aliada às qualidades mentais de diligência, conhecimento claro, mindfulness e libertação de desejos e descontentamento, ressoou com meu processo de aceitação da realidade e reconhecimento da impermanência.
A ênfase de Analayo na contemplação de sentimentos em suas naturezas mundanas e não mundanas ecoou em minha reflexão sobre a diversidade de experiências humanas e a importância da autocompaixão. Isso me levou a uma compreensão mais profunda da natureza transitória dos sentimentos, ajudando-me a cultivar uma consciência mais equilibrada e menos reativa.
Além disso, a progressão das contemplações de satipaṭṭhāna, do mais grosseiro ao mais sutil, e o foco na experiência do Nibbāna, ressaltaram a minha jornada de crescimento pessoal e transformação. A prática de sati, essencial para a meditação, pareceu alinhar-se com minha busca pela verdade, reconhecimento da própria humanidade e apreciação do momento presente.
Considered in this way, the sequence of the satipaṭṭhāna contemplations leads progressively from grosser to more subtle levels. This linear progression is not without practical relevance, since the body contemplations recommend themselves as a foundational exercise for building up a basis of sati, while the final contemplation of the four noble truths covers the experience of Nibbāna (the third noble truth concerning the cessation of dukkha) and thus corresponds to the culmination of any successful implementation of satipaṭṭhāna.Satipatthana: The Direct Path to Realization1 (Analayo)
Por outro lado, a "Trilogia de Copenhagen" de Tove Ditlevsen, com sua representação vívida e literária da vida cotidiana, contrastou com as leituras técnicas, oferecendo uma perspectiva mais terrena e imersiva. A narrativa, que retrata a esperteza e o atrevimento femininos em meio a um ambiente de desemprego e expectativas sociais, refletiu minha apreciação pela diversidade de experiências humanas e a importância do humor e da autenticidade. A frase sobre "dois punhos criados para a ação" ecoou em meus pensamentos sobre a importância da ação consciente e da vida ativa, apesar da inevitável impermanência de todas as coisas. E me ajudou a lembrar que mesmo a meditação, quando confrontada com uma injustiça pode, e até mesmo deve, ser interrompida em favor de uma ação que interrompa a injustiça.
Essas leituras clandestinas foram feitas na tranquilidade de meu quarto. Elas são entrelaçadas com minha experiência de retiro, com suas longas horas sentado observando a respiração e lutando com a dor nas costas. E se reforçaram mutuamente, pois, como disse Ricardo Piglia, "para ler uma pessoa precisa aprender a ficar quieta". Ambas, leitura e contemplação, oferecem caminhos para aprofundar o entendimento de si mesmo e do mundo, promovendo uma transformação pessoal e uma maior apreciação pela complexidade da experiência humana.
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Ao considerar dessa maneira, as contemplações de satipaṭṭhāna avançam do mais básico para níveis mais complexos. Essa progressão é prática: começar com a contemplação do corpo ajuda a desenvolver uma base de atenção plena (sati). A última etapa, que é pensar sobre as quatro nobres verdades, inclui entender a experiência de Nibbāna (a terceira nobre verdade sobre o fim do sofrimento), representando o ponto alto do sucesso na prática de satipaṭṭhāna. ↩