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Meus livros favoritos e suas resenhas

O livro da vida

Por Jiddu Krishnamurti

Uma bela seleção de um pensador no mínimo controverso

Digo isso por que é impossível ler qualquer um de seus discursos (ainda que recortados e palatavelmente distribuídos por temas pelo organizador) e se manter quieto na cadeira. É inquietante por que é indefinível; e isso é muito bem vindo em uma época em que a sabedoria e a contemplação foram abandonadas e prol de uma visão pasteurizada e fragmentada do mundo.

O Mágico de Oz: edição bolso de luxo (Clássicos Zahar)

Por L. Frank Baum

Acabei de ler ontem à noite, mas foi em um parque, sozinho, lembrando dos amigos que eu perdi que eu realmente entendi o valor desta linda história de fantasia. Não pude conter as lágrimas quando vi o amor que Dorothy tem pelos seus amigos, e como a amizade vem sempre antes de desejos pessoais. Uma história simples com mais de um século de existência, e que, tenho a mais clara certeza, nunca vai morrer. Edição Kindle esmerada, prática, que levo no bolso e releio quando quiser. Obrigado Dorothy!

100 aforismos sobre o amor e a morte

Por Friedrich Nietzsche

Seleção temática de Nietzsche funciona

Apesar de ter o título levemente enganador, pois contem noventa e nove aforismos de amor e apenas um sobre a morte, ainda é uma bela seleção. Uma boa companhia em tempos otimistas e ingênuos.

O Homem Do Castelo Alto

por Philip K. Dick

Acabei ontem a noite, lendo entre outros livros mas sem perder de vista este tendo minha predileção pelo assunto transversal da obra que é o Oráculo chinês. A premissa em si é interessantíssima, já conhecida pela série original da Amazon, uma realidade alternativa onde a Segunda Guerra foi perdida para o Eixo e os Estados Unidos está dividido em duas metades — uma, costa oeste, controlada pelo Japão (“os bonzinhos”) e outra pela Alemanha (“os malvadões”). Alguns pontos que me interesseram especialmente além do uso do I Ching pelo autor:

* A cultura americana tem um valor inerente que fica subentendido pelo interesse vivo que os colecionadores tem nas antiguidades americanas, e elevado ao máximo na digressão de um mundo onde a cultura americana tenha desaparecido — um ponto a favor na eterna discussão ame/odeie os EUA.

* Nada é preto no branco, por isso as aspas na descrição das potencias mundiais, em P.K.D. Nada. E qualquer asserção sobre a realidade está em constante questionamento.

* Seu conhecimento de conceitos filosóficos tanto orientais quanto ocidentais é muito versátil. Os personagens são muito bem construídos e a trama não é monótona. Não à toa inspirou a série de mesmo nome.

Poderia falar muito mais, mas esse é meu primeiro P.K.D. e eu li ontem, então ainda falta aquele distanciamento inspirador. Recomendo a quem gosta de distopias, metalinguagem e tramas intrigantes.

A edição kindle está maravilhosa e tem umas sugestões da editora no final.

Silogismos da Amargura

Emil Cioran

Essas ideias que voam pelo espaço

Eu já havia ouvido falar dele muita vezes nos corredores do curso de filosofia, mas ainda não havia lido uma obra inteira ainda. Então que quando encontrei ele em formato Kindle não pensei duas vezes. E não me arrependi, cinco de cinco, este livro é uma obra leve em sua estrutura, mas de profundo conhecimento da tristeza da vida. Recomendo a todos que andam às voltas com as alegrias da vida sem reconhecer que, no fundo de todos nós, jaz um abismo infinito.

Paciência

por Daniel Clowes

Gostei! Já li algumas obras dele antes, como “David Boring”, e “Like a Velvet Cast in Iron”, entre outras, uma das características principais de suas obras eram o mistério, o enigma, e principalmente, o absurdo. O Tom continua o de romance noir, inclusive o “herói” é quase hard-boiled, durão. Em “Paciencia” nada disso mudou muito, apesar do cenário psicodélico futurista, embora ficção científica não seja o que interessa aqui; Clowes vai fundo na força psíquica dos seus personagens, seus conflitos internos ficam claros como água, e ele sabe como contar uma história. Se parecer naïve, será mais por virtude do que por fraqueza, pois o que poderia ser mais ingênuo do que amar alguém para além de qualquer quantidade de tempo e espaço?

Aprendendo a Viver

por Sêneca

Você sabia que Sêneca foi contemporâneo de Jesus Cristo? E sua filosofia, o estoicismo, foi com o passar dos séculos bastante aproveitada pelo cristianismo, de fato, poderíamos dizer que elas são muito parecidas. Com a diferença que Sêneca, um de seus principais expoentes, deixou obra escrita. Seus ensinamentos são simples e práticos: “não procures a felicidade no dinheiro”, “aceite a inevitabilidade do destino”, “aceite a dor que lhe cabe, mas não te demores muito, siga em frente”. Ele também vai lembrar sempre da força divina que é maior do que todos nós, porém, avisa que a fortuna é uma deusa caprichosa, e que convém ser prudente. Muito útil nos dias de hoje como no império romano; bons conselhos, ensinados não longe da vida cotidiana, feitos sob medida para as redes sociais, mas que talvez não sejam populares como poderíamos querer… E isso, também, é uma lição dos estoicos.

Sobre a ira/Sobre a tranquilidade da alma: Diálogos

por Sêneca

Já li algumas edições kindle boas, outras nem tanto. Talvez pela relativa novidade do livros digitais, alguns ebooks saem um tanto quanto desencontrados. Esta, junto com talvez algumas poucas, está muito boa, não deve à nada à versão impressa. A tradução está bastante atenciosa, e é o mesmo Sêneca de sempre, com seus conselhos sempre tão atuais.

Sejamos todos feministas

por Chimamanda Ngozi Adichie

Livro muito bom, não tem tom de manifesto ou coisa assim, responde à maioria das questões que alguém pode ter sobre a causa feminista apenas pela experiência pessoal da autora, que, elegantemente nos conduz através de uma leitura única, boa e simples, que se lê de uma única sentada, e nos esclarece sobre aquilo que tão relutantemente evitamos ver: o mundo nunca será um lugar justo se não formos todos a favor das mulheres.

Germinal

por Émile Zola

Dada a formação de uma pessoa quanto ao seu caráter, seu modo de ver o mundo, de entender os embates de forças sociais, este livro é uma preciosidade, pois, além de uma narração primorosa e personagens bastante críveis, traz, embutida, a luta de classes de quem é explorado e precisa sobreviver, e que nem isso consegue, ao passo que o sistema de heranças e a especulação financeira mantém os que estão no lucro no lucro. Zola, que pertenceu à academia francesa de letras, antes de enriquecer e ficar famoso, passou por uma grande dose de sofrimento e pobreza, e provavelmente foi destes dias que ele tirou material para livros tão realistas como esse. Recomendo muitíssimo, tanto para quem gosta de literatura como quem quer conhecer das agruras da pobreza.

Sapiens: Uma breve história da humanidade

por Yuval Noah Harari

Este livro foi para mim o que nós chamamos em inglês de groundbreaking, o que pode ser traduzido simplesmente como abrindo o chão. E foi o que fez para mim, pois colocou em perspectiva direta e simples e objetiva, os milhares de anos da espécie homo sapiens e os milhões de anos de evolução da vida no planeta. Se não responde a todas as perguntas, ao menos tenta, e consegue esclarecer muita coisa, muita coisa mesmo. Para os dogmáticos não será uma obra fácil, mas até mesmo por isso se torna obrigatória; descobrimos dogmas em nós que nem tínhamos notado — ao longo da leitura — e que nos faz rever toda nossa postura diante da vida e de nossa identidade como espécie, cidadão da humanidade, indivíduo que nasce e vive neste planeta tão humanizado. A experiência só não se torna mais traumática por que o autor às vezes usa um ou outro primeiro pronome pessoal, o que nos lembra que é outro sapiens que escreveu, e que, de certa forma, estamos todos sob o mesmo céu. Harari é o professor de história por excelência, como aquele professor que todos tivemos e que definiu nossa visão de mundo seja com suas aulas empolgantes, seja com sua postura digna. O melhor é que ele está no nesse livro e você pode ter o professor e suas aulas com você para consulta a qualquer momento.

Stalingrado (Edição de bolso)

por Antony Beevor

Um verdadeiro “page turner”, ou “virador de página” este livro é altamente recomendável para quem gosta de leituras fluidas e detalhadas das diversas batalhas ocorridas a partir da invasão alemã à Rússia, então URSS, a partir de 1941. Ademais, apesar de ser fácil de ler, tem um conteúdo denso, quase palpável, de história do mundo. Seu viés é claramente tático-militar, mas não deve ser problema para leigos. Realmente, eu não parei de ler até acabar, numa pegada, os últimos cinco capítulos. Cinco estrelas.

Demian

por Hermann Hesse

Hesse é um autor alemão ganhador do prêmio Nobel de literatura, cujo teor místico e esotérico de seus escritos foi bastante cultuado na contracultura dos anos sessenta, mas que está muito além de meros rótulos new age de autoajuda. De fato, ler seus livros em geral pode trazer (eu sei o que me trouxe) um senso de desorientação e desesperança, típico de quem se vê confrontado com questões essenciais que possa ter evitado a vida inteira ou que esteja prevendo ter que suportar pelo resto da vida — essa obra não foge à regra e é especialmente biográfica, nos mostrando desde a tenra idade as agruras do narrador, Sinclair, que tem sua vida mudada quando cruza com a misteriosa figura do colega de escola mais velho, Demian. Hesse então irá partir de um pressuposto humanista e romântico da humanidade e que por vezes se torna desesperado devido aos rumos da humanidade, às portas da Segunda Guerra Mundial, e este é o tema constante com o qual ele trabalha, a possibilidade da humanidade e o dilema da luta para crescer. Por outro lado ele dirá que alguns homens na verdade ainda são peixes, isto é, ainda não evoluíram. De certa forma, Hesse é o que alguns chamariam de humanista evolutivo, que acredita que a humanidade pode e deve melhorar. Mas isso são suposições. O que eu sei com certeza é que esta obra, que se lê em uma semana, com tranquilidade, é uma pérola, uma refinada obra de arte que você não vai querer perder. Se você já gostou dos livros mais famosos dele, como O lobo das Estepes, ou Sidarta, vai querer ler esse. Se não os leu, essa é uma ótima obra introdutória. De qualquer maneira, leia esse livro.
 Eu gostei da edição digital desse livro, está bastante boa e tem algumas notas introdutórias.

Chamado da Floresta

por Jack London

Quase Como Assistir a Sessão da Tarde

Eu já tinha ouvido falar muito bem de Jack London, e ele é referenciado entre os livros que o jovem MCcandless lia antes de fazer sua propria viagem ao Alasca, junto com outros tantos. Mas o mais surpreendente foi ler um livro sobre a ótica de um cachorro! Eu simplesmente me fascinei com as caracterizações psicológicas de Buck e de sua ascensão no meio hostil para qual foi levado. É um livro leve e divertido, escrito de maneira competente e sagaz. As notas também são muito informativas e interessantes. Com certeza eu recomendo.

Onde os velhos não têm vez

por Cormac McCarthy

Um livraço! MacCarthy conta habilmente uma história que em si não traz de nada de novo, mas que é bem escrita o suficiente para valer a pena ser lida; é uma leitura fácil mas com um tema extremamente difícil, mas que sempre, sempre trará uma nova perspectiva para quem tiver coragem de atravessar suas duras páginas.
 Nesta história, eternizada no filme de 2007 dos Irmãos Cohen com Josh Brolin, Tommy Lee Jones e Javier Barden nos papéis principais, ficamos conhecendo a história de Moss, um sujeito comum que encontra uma maleta contendo dois milhões de dólares e que é procurada por muitas pessoas más, entre eles um vilão que já deve estar entre os dez piores psicopatas da história da literatura, Chigurh. Ao longo da história vamos tendo muitas esperanças de uma história feliz despedaçada, mas também ficamos sabendo os pensamentos de um homem que acha que ficou velho para a profissão de xerife, e é aí que está o ouro, pois conhecemos o lado brilhante de uma história amarga e negra.
 Recomendo para qualquer uma que tenha visto o filme e ficou com perguntas; recomendo para quem gosta de prosas enxutas, e para quem gosta de histórias de tirar o fôlego. Uma obra que passeia entre o popular e o clássico, e que traz em si algum experimentalismo; recomendo para quem quer começar a conhecer o autor e se familiarizar com o realismo filosófico deste grande escritor norte-americano.

Leonardo da Vinci

por Walter Isaacson

Um livro fantástico, digno de um homem igualmente fantástico.
 Agora, imagine um homem de 55 anos, andando pelas ruas com um séquito de jovens artistas… vestido com meias até a cocha, salto alto, blusão rosa. Um cross-dresser, certo? Agora imagine isso há 500 anos atrás em uma grande cidade-estado na Itália. Certamente chamaria sua atenção, não é? Provavelmente se você perguntasse a um transeunte, ele iria dizer que é o famoso pintor Leonardo da Vinci, amigo dos poderosos, disputado entre cidades e a nobreza, e, ainda assim, um artista, com toda a carga de significado que essa palavra adquiriu ao longo dos séculos — capaz de abandonar grandes obras só por que estava entediado. Mas também, muito mais que isso, um cientista, um engenheiro e um monte de outras coisas. Recomendo muito esse livro, ricamente ilustrado, simplesmente bem-escrito, para readquirirmos essa sensação de que tudo podemos nessa vida, que a vida só nos basta, e que sonhar é essencial, seja na grandeza, seja na sensibilidade.
 A edição kindle me permitiu ler em dispositivos diferentes, e se deliciar com as muitas ilustrações na tela grande do notebook.


Homo Deus: Uma breve história do amanhã

por Yuval Noah Harari

O professor Harari, que já é um consultor de decisões políticas e que é ouvido por líderes de diferentes partes do planeta, nos presenteia com essa continuação de Sapiens: Uma breve história da humanidade, que é em si um livro excelente, e nos dá a oportunidade de revisitar alguns de seus pensamentos mais engenhosos a respeito da história da humanidade e dos rumos que ela está tomando.

História da sua vida e outros contos

por Ted Chiang

Maravilhoso!
 Para quem se interessou pelo livro através do filme, como eu que me deparei com a própria capa do livro que anuncia “História da sua vida”, o conto que inspirou o filme, aviso que são experiências substancialmente diferentes, que o filme apenas tomou livre inspiração neste conto que por si só é inspiradíssimo, e fez aquela obra maravilhosa com a Amy Adams no papel principal e Forest Whitaker como Cel. Weber. e que trata, principalmente, da conexão com o desconhecido, a possibilidade de comunicação e de se colocar no lugar do outro, além da plot twist com a o tempo, que também faz parte da história mas sem o twist da plot. O conto, enfim, “História da sua vida” não torna estes temas tão explícitos, e é uma digressão quase acadêmica sobre a linguagem, o tempo e a possibilidade de que mesmo o universo físico tenha dois viés, que dependem exclusivamente de como sua consciência se adaptou a observá-lo, o que me lembrou daquela palestra TED da Jill Bolton no TED sobre o cérebro esquerdo X cérebro direito.

10% mais feliz: Como aprendi a silenciar a mente, reduzi o estresse e encontrei o caminho para a felicidade — uma história real

por Dan Harris

Algumas pessoas possuem uma personalidade tão magnética que mesmo que elas não estejam lá, elas atraem. Foi o que senti enquanto lia Dan Harris falando de forma tão direta e inteligente sobre sua vida, sua derrocada e sua volta, auxiliado por uma técnica milenar de autoconhecimento e que ele próprio era extremamente cético a respeito… Se não for pelo interesse pela meditação, aqui conhecida como Meditação de Atenção Plena, então pela leitura leve e divertida, este livro ainda é um achado, imperdível.

As 48 leis do poder

por Robert Greene

Um livro quase filosófico, com contos morais e estudos históricos, muito bem produzido, quase exaustivo, mas que, se pretende chegar ao fim do assunto, não acredito que realmente o alcança. Recomendado para quem, como eu, for curioso.

 Neste livro, que tem uma diagramação muito boa, mesmo moderna, o Autor escolheu algumas leis que segundo ele são as leis essenciais do poder, isso com um fim universal. Mesmo na introdução ele diz que com poder não se brinca, o que ressalta sua intenção de dizer tudo o que pode ser dito sobre o assunto. Ele usa um esquema de contar o exemplo histórico da lei em funcionamento e depois dá uma interpretação deste evento; ele vai ainda explicar como se utiliza a lei a seu favor e sintetizar a lei em uma imagem. No fim ele mostra em que casos a lei não se aplica. Ele enriquece o texto com muitos exemplos, anedotas e ditados.

 Me entusiasmou um pouco, e ainda estou lendo, mas sei que é um assunto delicado, e tento tomar cautela.

Vozes de Tchernóbil: A história oral do desastre nuclear

por Svetlana Aleksiévitch

Um livro muito bonito, apesar de triste. A Autora soube ouvir e dar voz aos esquecidos remanescentes do maior desastre nuclear da história. Recomendo demais, um documento histórico e um tributo inigualável à resiliência humana.

Flores Para Algernon

por Daniel Keyes

Um livro excepcional, um clássico moderno. Trata-se de uma ficção científica soft, onde algumas das premissas do livro não estão assim tão longe de acontecer; a ficção científica aqui se apresenta apenas como mote para erguer uma série de questões sobre a nossa sociedade, mas que trazem também questões sobre subjetividade e sobre a vida de modo geral. O livro começa com um “relatrio de progreço”, ou relatório de progresso, que são as entradas do diário do Charly, apelido de Charlie Gordon, 30 anos e retardado mental na Nova Iorque de um ano não determinado mas que parece ser a data em que foi escrito, 1960. Estas entradas são recomendações dos doutores para acompanhar o progresso do Charly. Na verdade é mais do que isso, como Charly diz, é o sua pequena contribuição com a ciência da parte de um retardado. Ele é a cobaia de uma operação revolucionária que traz a Charly um crescimento de inteligência excepcional e explosivo mas cujas consequências ainda não foram completamente elucidadas. O livro é o diário de Charly por todo o arco da experiência.
 Entre os muitos problemas que Charly vai enfrentar está a desconfiança dos seus colegas de trabalho após sua mudança, em que algumas de suas crenças básicas na humanidade de seus companheiros cairá por terra; até mesmo seus “criadores” serão questionados; também a mesma inteligência que o permite conquistar uma mulher que ele ama é a mesma inteligência que o vai afastar dela. É um livro muitas vezes triste mas com momentos belíssimos. A escrita é simples mas muito direta, e é muito humana em seu tratamento da disfunção psicológica bem como do amor platônico de Charly, de suas relações familiares e das pequenas e cotidianas tragédias da vida. Sim, é um livro triste. Mas ainda o recomendo.
 Leia-o, pois, por que é um clássico moderno. Leia-o por que é um livro cheio de vida apesar de uma puritanismo que é natural daquela cultura e que tem papel protagonista na condição do Charly (a psicanálise usada no livro parece bem séria, gostaria de haver entendido um pouco melhor), e muitas questões são pertinentes ainda hoje, como o academicismo e o fingimento do conhecimento, o lado humano dos cientistas, o amor platônico e sua capacidade de transformação do outro, o preconceito das pessoas contra retardados mentais, como se fossem menos merecedores de compaixão só por que seus problemas são de ordem não material; enfim leia-o porque você pode até ficar triste, mas saberá que foi por um bom motivo. Um livro inesquecível.

 Algumas citações favoritas:

 “Mas aprendi que apenas a inteligência não quer dizer porcaria nenhuma. Aqui na sua universidade, inteligência, educação, conhecimento, todas essas coisas viraram ídolos.”

 “Que estranho é o fato de pessoas de sensibilidade e sentimentos honestos, que não tirariam vantagem de um homem que nasceu sem braços ou pernas ou olhos, não verem problema em maltratar um homem com pouca inteligência.”

 “A coisa tola era tentar resolver o problema sozinho. Mas, quanto mais me aprofundava nesse emaranhado bagunçado de sonhos e memórias, mais eu percebia que problemas emocionais não podem ser resolvidos como problemas intelectuais.”

 “Algum tempo atrás, tolamente imaginei que poderia aprender tudo — todo o conhecimento existente. Agora espero apenas ser capaz de saber de sua existência e entender um mínimo disso.”

Esperando Godot

por Samuel Beckett

O teatro do absurdo, como foi chamado o movimento iniciado por Beckett e outros após o término da Segunda Guerra Mundial, como muitos movimentos culturais que nasceram na aurora da era pós-guerra, procuravam entender a loucura daqueles tempos, não apenas o conflito armado, mas antes, o que o homem buscava e por que ele se estagnara e qual o verdadeiro significado da existência. Sua dupla de mendigos filósofos são para mim mais reais que a própria vida; não à tôa “à espera de godot” se tornou uma expressão conhecida no mundo todo para afirmar aquele sentimento existencial tão comum à todos nós, quando não sabemos para onde estamos indo, ou para onde queremos chegar e estamos, simplesmente, existindo. Não obstante, Beckett insere muitas referências diretas ao cristianismo em suas falas. Porquê ler, afinal? Leia porque as questões são as mais relevantes que existem: o que é o homem, qual o seu destino, o que ele pode realmente? qual sua condição nesta vida? Beckett não responde estas perguntas, mas as torna incontornáveis. Senão por isso, leia por que é Beckett.


Os ensaios: Uma seleção

por Michel de Montaigne

Montaigne é um amigo. Simples assim. Ele sempre está lá quando você precisa, e sempre se abre ao ponto do constrangimento, não poupando nenhuma dor, nenhum sentimento. Não tem como não se identificar. Ele fundou um tipo de escrita com seus ensaios, e é muito estudado dentro e fora da academia. É considerado um expoente da língua francesa e é bastante atual, como nesse trecho em que ele fala sobre acreditar em boatos e que pode muito bem ser uma resposta ao mal do fake news em que vivem-se esses dias: “Quando vejo que me convenci, pela razão de outro, de uma ideia falsa, o que aprendo não é tanto o que ele me disse de novo, nem é de grande proveito a minha ignorância especial, mas em geral aprendo minha debilidade e a traição de meu entendimento, e com isso posso melhorar todo o conjunto”.
 Apesar de ser apenas uma seleção, está muito bem cuidada, e as introduções a cada ensaio são cruciais ao entendimento, se você não está familiarizado com o autor. RECOMENDO.

Como viver: ou Uma biografia de Montaigne em uma pergunta e vinte tentativas de resposta

por Sarah Bakewell

Este foi um livro difícil de acabar, e portanto, de ler. Não por que fosse ruim ou mal escrito, mas, prelo contrário, por que eu não queria que acabasse, por que ao lê-lo eu experimentava um estado de graça e alegria que só um livro muito bem escrito poderia oferecer. Não sei se o mérito é da autora ou do assunto, mas tendo a achar quer é um pouco dos dois. Montaigne teve uma vida fascinante e seu livro, Os Ensaios, estudado nas academias do mundo todo e, ao mesmo tempo, por leigos que não tem nenhuma pretensão intelectual além de ter uns bons momentos com um livro, também, tem ido muito bem através de seus quatro séculos de existência.
 A Autora nos apresenta um formato de capítulos que começam com uma mesma pergunta e cuja resposta é o título do capítulo. Assim ela vai nos guiando pela vida do filósofo ao mesmo tempo que nos apresenta suas ideias e de outros que através dos séculos cruzaram com ele ou com o seu livro. É uma viagem através da Renascença, mas também é um calmo olhar através dos séculos acompanhando a sobrevida de Montaigne: como os Ensaios conquistou o mundo.
 Este livro elevou minhas leituras em filosofia e biografias a um novo patamar e dificilmente poderei encontrar outro igual. Não é pela renascença, não é pelo formato, mas é pela verve do livro, o estilo de escrita, quase tão despojado como o do biografado, mas ainda com sutilizas no estilo que me conquistaram completamente.
 Eu recomendo este livro a todos os que querem e precisam de uma sobrevida: quem ama filosofia ou tem interesse no lado francês da renascença; quem leu ou tem interesse em ler Montaigne e seus Ensaios. Para quem acha que o papel de um livro é ser lido e relido, enfim, para quem procura algo muito bom para ler (este livro ganhou o premio de melhor biografia do National Book Critics Circle de 2011)

Clube da luta

por Chuck Palahniuk

FICÇÃO TRANSGRESSIVA

 Finalmente li a obra que originou o filme mais louco dos anos 00 (assisti alguns anos depois do lançamento), o Clube da Luta de David Fincher, que tem Brad Pitt, Edward Norton e Helena Bonham Carter nos papéis principais. Pude finalmente dizer que achei um filme que é melhor que é melhor que a ficção no qual foi inspirada, e isso não é desmerecendo o romance, pois o filme é que é excepcional e é melhor por pouco, muitíssimo pouco; o livro em si é quase como ver um filme, muito intenso, frenético e seco, como golpes que se recebe capítulo após capítulo. É literatura transgressiva, que não quer manter nenhum edifício conceitual de pé, e que, se você viu o filme continuará a surpreender mesmo assim, com um terceiro ato impossível.
 O Posfácio também é bem interessante, uma vez que ele fala sobre a trajetória da ideia que deu origem ao romance, e ele, o autor, quando fala, curiosamente, parece ser o próprio Tyler falando. Não sei se é proposital ou eu que não percebi a diferença, mas que seja.
 Tava me devendo esse livro. Agora não estou mais.

Os homens que não amavam as mulheres (Millennium Livro 1)

por Stieg Larsson

“Tive numerosos inimigos ao longo dos anos e aprendi uma coisa: não aceitar o combate quando é certo que se vai perder. Em compensação, jamais dê folga a quem o demoliu. Seja paciente e responda quando estiver em posição de força, mesmo que não haja mais necessidade de responder”.

 Larsson, Stieg. Os homens que não amavam as mulheres (Millennium).

 Dizem que cada geração tem seu herói para se guiar. Assim, alguns tem Harry Potter, eu tenho a Lisbeth “Sally” Salander.

 Não que eu não conhecesse a história, ela é bem conhecida graças à produção americana de 2012 com Daniel Agente 007 Craig no papel de Mikael Blomkvist e Rooney Mara fantástica como Lisbeth. Também há uma produção sueca de 2009 que filmou os três livros ao qual ainda não asssisti. Mesmo assim, o livro é inacreditável. Me segurou do início ao fim, em detrimento de outros livros que estou lendo, e me lembrando coisas fantásticas que sempre gostei deste tipo de romance, isto é, Thriller, que foi onde eu efetivamente comecei a ler, quando criança. Coisas como Sidney Sheldon, e Agatha Christie (é eu sei, mas um começo é sempre melhor que não começar). As referencias culturais estão em toda parte, mas não é essa a essência do texto — algumas são exclusivas para quem conhece um pouco da suécia, o que me fez pesquisar um pouco, mas, no geral nada que já não seja familiar — intrigas globais, perseguição, suspense etc. Recomendo fortemente para quem ainda acha que livros sempre vão contar uma história melhor que um filme; se não só por isso, então por que você vai conhecer uma heroína fantástica, que é capaz de dominar habilidades tão díspares como ciência de computação, conserto de moto e pugilismo; e se ainda não te convenci, basta lembrar que é um baita best-seller, que não te deixa sozinho no meio do caminho e te leva por caminhos bem trilhados do início ao fim da trama, com uma narração onisciente que te informa sobre coisas de todo tipo, como mercado de ações e quantidades de arquivos que as redações de jornais acumulam. O autor, que morreu antes de aproveitar o sucesso enorme da sua publicação é um jornalista sueco que, segundo a lenda, resolveu um dia ficar rico e o faria escrevendo romances. E, merecidamente, conseguiu.

Sonhos Eletricos

por Philip K. Dick

PKD é um artista da imaginação — um profeta do futuro, como muitas pessoas já disseram. Também, foi uma alma torturada, uma alma que buscou à vida toda uma alma gêmea platônica que perdera ao nascer — sua irmã, que morreu dois meses após seu nascimento e ao lado de quem ele foi enterrado após sua morte aos 53 anos. Falo essas coisas baseado no interesse contínuo que tive sobre ele desde muito tempo, desde quando soube de sua visão mística inexplicável que ele tenta explicar em The Exegesis of Philip K. Dick, que ainda quero ler. Tem uma tira do The Weirdo Years by R. Crumb: 1981-’93 sobre ela que é muito boa. Enfim, ele tentou se matar sem sucesso, ele teve cinco esposas, ele fez um terrível e assustador prospecto do futuro onde viveríamos em uma realidade simulada em computador em um discuso na França ( Metz, 1977), ele é a mente por traz de ideias incríveis e que inspirou a serie televisiva da amazon, Electric Dreams (assistam se gostam de Black Mirror mas estão cansados dos finais depressivos de quase todo episódio) e, muito embora sejam completamente diferentes do que aparece na televisão, a ideia embrionária, o germe dickiano está lá. Recomendo muito, para quem quer abrir a mente em 180°!

O evangelho segundo Jesus Cristo

por José Saramago

Deve ser porque é meu primeiro Saramago, mas fiquei muito impressionado. Um verdadeiro mago da literatura.Bem que dizem que ateus são os que mais conhecem a Bíblia; este é um livro sobre a trajetória de Jesus Cristo do ponto de vista materialista, empírico e causal. Não é um relato fácil, devo admitir, mas uma vez que você o compreende, fica mais fácil amar Jesus Cristo tal qual a Carne que se originou do Verbo, um homem que tinha um destino e o cumpriu. O Jesus com quinze anos, o Jesus que amou Maria Madalena, o Jesus que entrou para a história como Cristo, esse Jesus é o que Saramago nos mostra, em sua essência, nua e crua, e foi o Jesus que eu aprendi a amar, como se ama a humanidade, como se ama o homem. Não leia por que é polêmico, não leia por que é clássico, leia por que é erudito, leia por que é inteligente, por que não ofende, mas enriquece, constrói e aumenta o que nós sabemos sobre Jesus Cristo de Nazaré, nascido em Belém.

O Livro da Literatura

por Vários Autores

Livros de referência não são livros de aprofundamento, mas apenas um estudo erudito de um determinado assunto com fins de introdução ou esclarecimento. Literatura sendo um dos assuntos que mais me interessaram desde pequeno, natural que eu fosse atrás de uma obra que me guiasse neste imenso campo do conhecimento, afinal, são mais de cinco mil anos de produção escrita.
 Estou satisfeito com a escolha. O livro é bonito e de qualidade, provável, vai durar muito tempo. Ainda que eu goste mais de e-books, livros como esses são únicos em encher os olhos da gente. Recomendo mesmo.

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