RESUMO: Este texto é uma reflexão profunda e introspectiva sobre o imperialismo cultural, a era da tecnologia e as mudanças que o autor percebe em sua própria vida. O autor adota uma atitude crítica em relação ao domínio da cultura ocidental e ao avanço da tecnologia em nossas vidas, propondo uma visão alternativa inspirada na "Cultura Territorializada" de Milton Santos. Ele enfatiza a importância de uma cultura que resista e se eleve acima da massificação imperialista. Além disso, ele reflete sobre sua própria relação com a tecnologia e como ela tem moldado sua vida. Finalmente, o autor fala sobre a sua jornada pessoal, incluindo sua decisão de se tornar feminista e seus esforços para melhorar a si mesmo.
Eu penso no imperialismo… Penso na grande máquina de cultura que quer e pode nos esmagar e em como isso ultrapassa em muito nossa percepção. Veja você, como aconteceu com a Roma antiga. Um dos maiores impérios da história, cujas conquistas em muito excederam os limites comuns de um país — embora esse conceito não existisse na época — e até mesmo do continente. Nele nasceram e morreram Sêneca e Jesus. Foram responsáveis pela destruição de centenas de povos e culturas únicas. Depois dele o cristianismo, já como religião organizada, seria o maior exterminador de culturas e maneiras de viver.
Com isso em mente gostaria de propor um novo posicionamento em relação à cultura de massa, inspirado no que Milton Santos chamou de Cultura Territorializada (CT). Mas um aviso antes: não posso aceitar que eles, e o ocidente de um modo geral, dominem minha vida nos mínimos detalhes. Não por que tenho medo, mas simplesmente por que não concordo e não é certo.
Eu sei através do exemplo da história, que impérios e imperialismos não são invencíveis ou inevitáveis — tampouco uma coisa ruim em si mesma, como argumentou Harari em Sapiens. O cristianismo conseguiu sobreviver ao império romano. E este foi um império de longuíssima duração, enquanto que observamos impérios cada vez menores na história. O que precisamos, nós dominados, é de uma cultura que sobreviva e ascenda sobre a massificação dos imperialistas, como o ratinho que sobreviveu aos dinossauros e deu origem ao foguete.
A marcha do progresso é inevitável, dizem. Mas o progresso é apenas uma forma de existir. Existem outras. A antropologia ensina. A história também. Assim, a ciência, que foi uma conquista dos povos para sair do obscurantismo e obter novas maneiras de ver o mundo, hoje, é apenas mais uma servente do capitalismo e das políticas públicas. Matamos museus inteiros apenas para dizer que quem manda é a democracia (o argumento de que os museus são pouco populares) ou a iniciativa privada (o argumento de que faltou dinheiro para cuidar do museu nacional e que privatizar resolve). Sou da opinião de que, se amanhã, você fizer uma descoberta arrebatadora para a humanidade, faça um favor a nós todos e a mantenha em casa. Ou jogue fora, deixe na calçada para um estranho levar embora.
Caminhamos todos para uma espécie de distopia onde ninguém mais será capaz de deter a tecnologia, a prima irmã da ciência. Ficaremos sem emprego, desqualificados para até mesmo arrumar a máquina, que terá ela própria uma máquina para arrumá-la. Logo eu que adoro o facebook, a internet das coisas e a amazon. Sou um dos culpados? Sou uma das vítimas? Tenhamos cuidado com a zona de conforto que estes brinquedos nos trazem e lembremos as palavras do mestre: a riqueza não é importante para salvar sua alma.
Bom mesmo era quando eu tinha dezoito anos e ainda não tinha computador e apenas sonhava com um. Passava tantas horas no computador emprestado da minha tia que eles se irritavam; muitas vezes escorraçado — até mesmo agredido, como naquela vez que assaltaram a lan house que eu estava encarregado. Neste caso os ladrões se irritaram porque eu não tinha dinheiro. Rotina do Brasil no começo do século, é preciso entender (ou não, tem coisa que nunca fará sentido mesmo).
Escrevo quase todos os dias. E o que eu aprendi? Que sou prolixo. Que dou saltos lógicos. Que esqueço muitas vezes para quem estou escrevendo. Estou escrevendo para mim, somente para mim. Ninguém mais. Ninguém vai ler, ninguém vai pedir estes textos, eles não se tornarão parte de um arcabouço póstumo com que irão me lembrar. Nada. Se tudo der certo, isso será apenas o produto de um trabalho diário, longo e que não tem nenhum outro objetivo além de melhorar minha escrita, registrar os acontecimentos do meu dia e me comunicar comigo mesmo.
Então vamos falar comigo. Acabei de assistir John Wick. Sim, eu assisto filmes que não são cabeçudos de vez em quando. Que não possuem nenhuma mensagem profunda ou que vão abalar a minha forma de ver o mundo. E mais ainda. Eu me divirto. É a metalinguagem, entre outras coisas. Quando Keanu Reeeves encontra o L. Fisheburne em outro filme que não o matrix, algo ressoa e só posso imaginar como é a relação dos atores, entre outras coisas. As mensagens que estão implícitas, mas também as mensagens gritadas, escancaradas na tela. Ficou cabeçudo. Vou recomeçar.
Eu gosto muito daquele filme Matrix. Assisti com quinze anos e acho que ainda tenho quinze anos quando me lembro dele. Me entusiasmou mesmo, a ponto de eu me tornar budista por causa dos estudos que o filme me indicou. Mas também sei que os atores do filme são pessoas reais e que precisam continuar fazendo filmes — ainda que eu sempre os lembre com carinho de 1999 ou 2000 quando assisti o filme. E neste filme novo do Neo, quer dizer, Reeves, ele encontra com o Morpheus, L. Fishburne. Como não se divertir? Temos também o ator que faz o Wednesday na série de Deuses americanos.
John Wick 2 é um filme que se passa em um universo cinemático, muito mais violento que Matrix e onde existe uma organização internacional de assassinos, com suporte e infraestrutura como o de hotéis que abrigam os assassinos, servindo de área neutra. Toda uma organização com sistemas de comunicação dos anos 50 e mulheres com penteados desta época também.
Eu fui pesquisador bolsista (hoje voluntário) em um grupo de pesquisa e extensão da universidade por dois anos. Mas sinto que a Universidade como um todo já está ficando intragável para mim. Como uma escola de ensino médio americana, eu sinto que tudo é um concurso de beleza e de popularidade às escondidas. Quero o melhor para todo mundo lá, mas temo que eu me deixe levar pelo apego e me cegue para o que precisa ser melhorado.
Chove muito lá fora, quero entender qual a raiz do meu sofrimento. Mas a cura não depende só de mim — nenhum homem é uma ilha. Tenho sono, hoje foi um dia inteiro de sono, mas quero falar antes de mais nada que a geografia está na minha vida como deveria estar: organiza meus pensamentos e visão de mundo.
Também, vou me tornar cada vez mais feminista, não importa o que disserem, pois as coisas que mais gosto, que mais me mantém de pé dia após dia, são em essência, meu lado feminino. A sensibilidade, a inteligência, o bom gosto. Minhas bandeiras doravante serão Anarco-feminismo. Queda do patriarcado. Desconstrução da masculinidade… Tornar-se alguém mais compreensivo.
Quando você queima todas as pontes descobre que só pode andar para a frente — feminismo aqui é reconhecer que metade da humanidade tem direitos iguais à outra metade; não é apenas ceder privilégios mas descobrir pela renúncia a própria e imaculada masculinidade; que o primeiro homem que se é não precisa de mais, tampouco o que pode ser de serventia a outrem.
Isso para 2019. Pelo menos um pouco de cada coisa, por que não? Quando você deixa todos serem quem eles quiserem, você descobre a si mesmo. Não controlando nem forçando todos fazem o que a gente quer — ninguém contra ninguém, eles apenas são por eles mesmos. A realidade se desdobra para que vocês passe. Propriedades emergentes das redes e das relações.
Hoje fazem 5 semanas sem beber. Também, nesta quarta feira, 3 semanas sem se masturbar. Poderia ser mais, e será. Não por uma questão de livre-arbítrio, tal coisa é impossível, mas porque eu me rendi. Como um bêbado que cai no rio turbulento, eu não luto. Calmamente sou posto na outra margem, são e salvo. Mês a mês eu uso este método, ainda que às vezes eu precise escolher alguma coisa. Neste momento prevalece a arte da guerra, admito: o que não me mata me fortalece.