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Um anúncio sobre minha pesquisa de mestrado

Arte de Escher

Sumário


aew crl descobri como vou escrever minh dissertação e comprovar que fui eu quem fiz: usarei aquela parada louca do GIT até o final.

— Walker Barros (@walker.eco.br) 18 de outubro de 2024 às 11:13

Introdução

Eu acredito que cada um dos muitos progressos mecânicos e tecnológicos teve sua parte na história humana, e que eles podem ser úteis ou não, dependendo da motivação, objetivo e prazos da produção textual. Sei também que a IA, com o Machine learning, e o chatgpt como um aspecto da IA, modelos de linguagem grandes que geram texto, não pensam como seres humanos e não são inteligentes como seres humanos, mas possuem, e isso é de importância capital, Agência e poder de escolha sobre o que produz.

Um estudo descobriu que a palavra delve do verbo inglês to delve, usado para examinar, analisar, teve um pico de uso após ascensão do chatgpt. No português eu notei uma tendência dele de usar reiteradamente as palavras "rica tapeçaria" toda vez que se referia a um panorama, histórico ou social, ou quando desejava passar a ideia de colagem. Não é possível dizer que todo mundo de repente descobriu o verbo delve e julgou que fosse a melhor coisa para dizer aquilo que se queria dizer. Isso foi intervenção direta da IA. Deste modo, como alguém que estuda, admira e trabalha com palavras cotidianamente, vejo com precaução e ceticismo a capacidade da IA de nos ajudar com textos, produções acadêmicas e prosa casual.

Venho trabalhando nas últimas três semanas em uma solução para escrever minha dissertação de modo que possa ser verificada a cada palavra -- inibindo, portanto, dúvidas a respeito de sua autenticidade. Essa solução é baseada em um sistema de controle de versão distribuído que permite rastrear mudanças em texto, gerenciar versões destes mesmos textos e facilitar a colaboração entre autores e orientador. Ele armazena um histórico completo das alterações, possibilitando reverter, comparar e combinar modificações em diferentes versões do projeto. Se chama GIT e é ferramenta indispensável no ramo da programação, mas, me ocorre, também ser útil no meu campo. Eu fiz um repositório de exemplo (o atualizado está privado por motivos de políticas institucionais da universidade) e pode ser acessado neste link.

Motivações pessoais e acadêmicas

O momento específico que decidi por esse tema foi quando encontrei uma Thread no Reddit, em um sub chamado humor de programador, em que se fazia piada com o GIT. Lendo os comentários vi um que reinterpretava a piada dizendo que na verdade ele estava mesmo fazendo aquilo, isto é, usando o GIT para produzir material não relacionado a programação -- e outro comentário emendou que também estava -- e continuaram discutindo as possibilidades que o uso desta ferramenta trazia. Tive a percepção instantânea que aquilo era uma solução para mim (o momento exato ficou registrado no meu post no Bluesky que está no início deste texto).

Eu conheço um pouco de GIT, e de Markdown, e vinha já há um tempo pensando como alguém poderia produzir um texto hoje comprovando que na verdade não usara o chatgpt, (nem claude, nem gemini, etc), especialmente em um contexto onde ferramentas de geração de texto estão onipresentes no meio online. Isso vai de encontro com outras discussões que tive comigo mesmo como a questão do estudo e anotação efetiva ser por papel ou por meios digitais e a polêmica afirmação do escritor Chuck Palahniuk de que escritores que usam computador não escrevem, digitam.

Usar o GIT como solução não é uma ideia original nem isenta de falhas. Uma pesoa obstinada poderia de várias formas burlar o sistema e inserir textos completamente escritos pela máquina. Porém, partindo do pressuposto da boa fé, de que ninguém iria buscar uma forma complicada de fazer algo que já é errado -- e que é na oportunidade que surge o ladrão, o que não é o caso aqui -- enfim, pesando prós e contras, é uma ideia que pode valer a pena. (Mais detalhes destas tecnicalidades no final deste artigo).

Para mim, por uma série de razões pessoais, concluo que encontrar uma solução é importante, pois poderia sempre escrever sem o ressabiamento de ser confundido com um texto gerado por IA e talvez desenvolver uma solução à altura para o ceticismo que a IA lança sobre toda produção textual. Também:

  • Eu tenho produzido muitos trabalhos de faculdade -- outro curso que faço paralelamente à pós -- com uso avançado e profundo de ferramentas de IA. E embora eu sempre deixe claro no trabalho da especificidade do uso, sinto que posso acabar manchando minha trajetória acadêmica como alguém que se amparou excessivamente na ajuda de IA.

  • eu tenho um péssimo senso persistente de inadequação e dúvida sobre a própria competência, mesmo quando há evidências claras de sucesso e habilidades -- aquilo que chamam de síndrome do impostor -- aliado a um perfecionismo paralisante. Tudo ilustrado por uma trajetória de muitas ocasiões onde o alívio substitui as celebrações pelas jornadas finalizadas. O chatgpt emulando uma das minhas competências mais queridas só irá piorar esse senso de desqualificação latente.

  • Eu tenho uma genuína preocupação com a perda de 5 milhões de leitores entre crianças e jovens, de acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Ler e escrever é um privilegio que mudou minha vida, e por ser gratuito e ao mesmo tempo tão enriquecedor, até me assusta que as pessoas não idolatrem isso como eu. Abraçar a IA sem análise e criticismo pode estar ruindo as bases da educação e alfabetização.

  • As escolas e universidades não estão dando sinais de reação ao uso descontrolado da IA para gerar textos, e encontramos muitas gente nos dois espectros da discussão: adotando para uso completo e imersivo, e gente que não usa e coloca pecha de execrável em quem usa, e poucas pessoas dialogando em busca de solução com os dois lados.

  • Eu abandonei pelo menos dois projetos de mestrado antes de chegar nesse: o último era sobre escrita online e blogs, mas o tema da IA é tão presente e inevitável que me senti na obrigação de investigar. Eu também senti-me no início abalado ao ver a qualidade do texto que a máquina gerava em segundos -- e com curiosidade adentrei esse mundo e testei tudo que pude (inclusive usando para isso dinheiro que um estudante raramente tem de sobra) até entender que aquilo que a máquina fazia não era escrita nem raciocinio, e que eu poderia sossegar sem medo de comparação.

Resumo de trajetória usando IA em trabalhos acadêmicos e pesquisa

Ainda tenho salvo neste mesmo blog alguns textos que usei o chatgpt -- e mesmo GPT, pois estava ciente desta ferramenta alguns meses antes do anúncio da outra; graças ao Nexo Jornal, que em um artigo muito bom e conveniente já anunciava do que se tratava e quais suas capacidades. Mantenho esses textos como parte da minha trajetória, aprendizado e experimentação. Nunca me ocorreu deixar ele fazer meu trabalho ou deixar seu uso inadvertido para os outros -- também nunca me ocorreu que era uma falha moral fazer uso de IA.

O primeiro texto tem data e nome: foi um que chama "Fiz um texto pelo gpt3 sobre ficar velho demais para video games". Usei então o playground da openai, pois ainda não haviam liberado o chatgpt. Esse texto, como voce pode ler, é beme estruturado e está acentuado e capitalizado -- mas não tem gosto de nada. No final do texto coloco o meu texto, sem edição e cru, para comparação.

Outros textos, mais recentes, são aqueles que usei para fazer trabalhos da disciplina de planejamento ambiental. O primeiro deles se chama Para Adiar o Fim do Antropoceno - um ensaio para a disciplina de Planejamento Ambiental e ocorreu em um contexto que eu estava muito mais familiarizado com a IA e tinha ao meu alcance muitas outras opções além do GPT e Chatgpt. Uma delas era a Consensus, que adiciona IA de forma sóbria ao seu site -- e uso até hoje para conhecer respostas sobre o consenso científico em relação a determinado assunto, ou para saber em que patamar está atualmente a pesquisa sobre esse ou aquele tema. Foi assim que pude conhecer melhor sobre o antropoceno e quais são, supostamentes, as marcas de seu início. Usei então muitíssimas vezes a IA para resumir artigos, traduzir em termos simples alguns abstracts complicados em língua estrangeira, enfim, como ferramenta completa de pesquisa acadêmica -- decidindo apenas o que entrava e o que saia do produto final, como um empregado alienado do significado do que se faz, mas também como um artista do conhecimento, que alcança novos patamares graças ao uso despretensioso de ferramentas diferentes.

Finalmente o texto mais recente "A Luta Nunca Acaba: ensaio de um planejamento ambiental no microcosmo do Vale do Paraíba - SP" que fiz em conjunto com um colega e que finalizava a disciplina de planejamento ambiental e que possui nada mais nada menos que 80 ou mais páginas e trazia um planejamento ambiental praticamente completo -- incluindo cenários, prognósticos, tudo. Esse trabalho, que em tese deveria ser feito por uma equipe de profissionais de diversas áreas, foi escrito quase todo em cerca de 72 horas. E não foi porque eu usei IA para me ajudar que não passei mais horas do que deveria na frente do computados e dormindo mal.

Escrever com IA

é tão trabalhoso como escrever sem IA

De fato, um padrão começou a ser observado aqui, de que troca-se, muitas vezes, o trabalho manual pelo trabalho com IA e acaba tudo dando no mesmo -- de que muito se produz com IA, mas muito se joga fora. Passa-se muito tempo ensinando a ela o que fazer, alimentando-a com textos pertinentes, e depois verificando o que ela fez, se ela entendeu, fazendo referências cruzadas, trocando palavras repetidas e expressões semanticamente exaustas (eu precisei passar duas horas tirando as mais de 200 vezes que ela usou a palavra "sustentável" e colocando outras), etc. Foi nesse trabalho que usei pela primeira vez o modelo o1 (codinome Strawberry, porque sabe quantos "R"s possui essa palavra) da openai -- o modelo que "raciocina". Supostamente ele seria capaz de lidar com a imensa quantidade de variáveis que um modelo de planejamento ambiental possui. O resultado foi intrigante, muito embora apenas um profissional da área com razoável experiência possa me responder. Também usei o whisper para analisar áudios do campo e abracei sem medo o Perplexity AI para pesquisas, o que julguei mais gratificante que o chatgpt porque ele ao menos procura por fontes e links. O trabalho tirou 9 na disciplina e não postarei inteiramente no meu blog por motivos de proteção e privacidade das pessoas que residem no assentamento, mas você ainda pode ler a Introdução completa aqui no blog.

Abordagem metodológica

Para melhor investigar os impactos da IA na criatividade e escrita acadêmica eu quero fazer entrevistas com especialistas -- penso no Leonardo Flores, cuja palestra vi no início do ano em um evento do Instituto de Linguagens e que é um acadêmico que analisa a IA com olhos otimistas, por exemplo -- e também fazer entrevista com professores da minha alma mater e das escolas. Também, uma pesquisa online, segura e anônima, com estudantes. Detalhes ainda precisam ser verificados.

Gostaria de aprofundar em leituras, e certamente devo fazê-lo, mas me encontro em um dilema nesse ponto. Posso "ler" uma pletora de artigos e autores usando o proprio chatpt (claude, gemini etc) e outras ferramentas com capacidade de analisar grande quantidade de texto -- chegando portanto rapidamente aos pontos que me interessam. Ou posso escolher a dedo, com grande cuidado e atenção, os poucos autores que de fato preciso ler, diminuindo assim a necessidade de uso de IA neste trabalho. Poderia até usar IA em um momento inicial para me ajudar a saber exatamente o que estou buscando, diminuindo o leque de opções, mas nunca usar para ler, sumarizar e analisar os textos -- o que eu costumo fazer cotidianamente e fiz em outros trabalhos, mas que recuso nesse, justamente porque em um trabalho que analisa a influencia da IA em produções acadêmicas deve, prudentemente, se isentar de ser influenciado por IA.

Foco na pesquisa

Para tratar de tema tão contemporâneo, vou seguir o conselho dos sábios, isto é, Umberto Eco, que dizia para que se "Trate estudos contemporâneos como se fossem clássicos e os clássicos como se fosse contemporâneo". Ainda estou à cata de teorias e referências bibliográficas, mas tenho uma tendencia a buscar em Aristoteles com sua Etica, e Platao com sua teoria das formas perfeitas para entender melhor quão fundo vai essa toca do coelho. Gosto da prosa do Montaigne, assim como de seu ceticismo, mas não posso confundir gostos com efetiva bibliografia.

Disso surge a descoberta recente da poesia de Anne Carson em seu livro Short Talks que foi algures comparado com um texto tal como feito por IA, não por sua qualidade, mas por sua forma, isto é, poemas breves e densos, com informações condensadas em poucas linhas, assemelhando-se àquelas respostas diretas de IA. Também, conexões entre ideias aparentemente não relacionadas, técnica que se assemelha a como IAs podem gerar combinações inusitadas.

Nem preciso dizer que, apesar dessas semelhanças superficiais, "Short Talks" é uma obra de arte cuidadosamente elaborada por uma poeta altamente qualificada, correto? A profundidade, a sutileza e a intenção artística presentes no trabalho de Carson vão muito além do que os sistemas de IA atuais são capazes de produzir (e a maioria dos mortais também, temo).

Por se tratar de um tema muitíssimo recente, insiste-se que o problema, segundo Umberto Eco, é encontrar fontes e pesquisas bem fundamentadas, que passaram o teste dos anos. Nesse sentido aplico o conselho do mesmo Signore Eco, que diz para tratarmos temas de pesquisa clássicos como contemporâneos, e contemporâneos como se fossem clássicos

ou se faz uma tese remendada ou se faz algo novo, e em relação aos autores antigos, pelo menos, temos esquemas interpretativos seguros aos quais podemos nos referir ao passo que o autor moderno ainda são as opiniões vagas e contraditórias, a nossa capacidade crítica é falseada pela falta de perspectiva e tudo é imensamente difícil. Como se faz uma tese. P. 17.

E ainda:

Trabalhe sobre um contemporaneo como se fosse um antigo, e vice-versa. Será mais agradável e você fará um trabalho mais sério. p. 17

IA está mudando a produção de conhecimento e a redação acadêmica?

Quando o chatgpt saiu todos ficamos impressionados. Ela sabia tanto que podíamos "substituir" pelo google! Com o tempo descobrimos que não era apenas uma explosão de criatividade que ela nos proporcionava. Existiam pequenas fissuras nesta narrativa que colocavam em xeque todo o valor real desta revolução -- entre elas as alegações de que a openai usou de ferramentas de coleta ilegal de dados da internet e de autores de livros para fazer sua imensa database.

Não apenas isso, o chatgpt e similares passaram a ser usados cada vez mais para escrever trabalhos de faculdade e escola -- ninguém conseguiu até hoje criar uma ferramenta sólida de detecção -- e nem irá, pelo menos da forma como está sendo tentada. Muitas pessoas começaram a se perguntar se o trabalho de escritório -- muitas vezes visto como seguros, confortaveis e insubstituiveis -- estariam com os dias contados. As empresas abraçaram essa perspectiva e adoratam uso de IA em tudo antes mesmo de entender suas limitações. O usuário não pode ser culpabilizado pelas ações da corporação -- e muitas das críticas que vejo à IA são críticas veladas ao capitalismo e ao corporativismo do que à IA, que sabidamente tem potencial para auxiliar em muitos campos da ciencia dada sua capacidade de analisar grande (imensas, gigantescas) quantidade de dados. Ela pode ser nossa salvação (não só por causa dela, claro) com as mudanças climáticas, contra o câncer, contra o fascismo, a favor de um trabalho com verdadeiro propósito, etc. Infelizmente esta IA está na mão destas mesma corporações, todas, sem exceção, gananciosas.

Epistemes Contemporâneas, Poéticas Contemporâneas

Meu programa de pós graduação tem uma coisa muito especial: é interdisciplinar, e está aninhado na Faculdade de cultura e artes. Possui três linhas de pesquisa, duas das quais eu sou muito atraído:

A linha de pesquisa Epistemes Contemporâneas estuda diferentes formas de conhecimento. Ela reconhece a importância de períodos históricos anteriores, como a Grécia Antiga, que buscava uma verdade única e alcançável. Também considera a Idade Moderna, quando se acreditava ser possível descobrir todos os segredos da natureza. O foco principal são as propostas de conhecimento que surgiram desde o final do século XIX. Estas novas formas de pensar trazem diferentes possibilidades para a filosofia e a ciência, especialmente na América Latina. Agora, as fronteiras entre diferentes áreas do conhecimento se tornam menos rígidas. A linha também valoriza os conhecimentos tradicionais de diferentes culturas, chamados de etno-saberes. Isso é especialmente importante porque a ciência e a tecnologia modernas não conseguiram resolver problemas graves do século XX. Entre estes problemas estão a fome, a destruição do meio ambiente e a falta de paz entre os povos.

Ainda:

A linha de pesquisa Poéticas Contemporâneas estuda as mudanças na cultura dos últimos 60 anos. Ele analisa dois aspectos principais: 1. Como práticas culturais tradicionais mudaram ao incorporar elementos novos e 2. Como surgiram novas formas de fazer arte e cultura A linha de pesquisa usa o conceito de "poéticas". Este termo tem várias origens: Aristóteles o usou para falar sobre poesia - Luigi Pareyson o expandiu para todas as artes - Na origem grega (poiésis), significa "criação" ou "formação". O programa se inspira no conceito de "autopoiésis" de Maturana e Varela. Este conceito mostra como seres vivos e grupos sociais podem criar a si mesmos continuamente. Esta ideia pode ser aplicada à arte e à cultura. A linha de pesquisa estuda: - Novos modos de criar arte - Novas formas de expressão simbólica - Práticas de indivíduos e grupos - Foco especial em práticas da América Latina.

Meu interesse em Epistemes Contemporâneas dialoga diretamente com questão da escrita nesse contexo online, digital, da pesquisa contemporanea, dos blogs, redes sociais, do texto gerado por IA e das consequencias disso. Me faz pensar no macro, nas implicações para as geraçoes futuras, para o fundamento institucional das escolas e universidades, essa ultima uma instituição de orginem medieval. Como eles se adaptam, onde estará traçada a linha na areia? Meu interesse por Poéticas Contemporâneas, por outro lado, dialoga com os artistas que não tem medo de novas tecnologias, e nem mesmo medo da IA, que buscam inovar e fazer isso com grande produtividade. São dois lados de uma mesma moeda, pode-se dizer? ainda quero ir fundo nisso.

Perspectiva única

Relacionando tudo com os quadros epistemológicos tradicionais, o que temos? Dado o meu interesse pela poética, como vejo a relação entre a criatividade humana e o texto gerado por máquinas? Essa pergunta é capciosa, difícil de responder no momento -- os quadros epistemológicos tradicionais seriam os que remontam a Aristóteles e Platão? Mas nao apenas eles, Foucault e Roland Barthes tambem falaram sobre o autor e até sobre a morte do autor.

Meu interesse sobre o texto gerado pelas maquinas é o mesmo que um cientista possui pelo seu objeto de pesquisa. Mas confesso, eventualmente irei investigar uma pequena intuição que tenho cá comigo de que esses engenheiros e cientistas da computação só inventaram o GENAI (a ia usada para gerar imagens, musica e texto) apenas porque tinham inveja do que os artistas poderiam fazer -- e de tanta fé que possuem na matematica, criaram uma ferramenta que atraves de estatistica e roubo de arte alheia, produzia ao seu bel prazer, um arremedo destas mesmas obras.

Não digo que não exista uma poética na IA. Existe certamente uma estrutura. Uma sensação de proximidade. Mas não é possível dizer que a IA entenda a beleza do pôr do sol ou o [insira aqui a palavra que voce acha que está mais provável de aparecer] da [outra palavra que sirva]. Não pode, nem nunca poderá. Agora, se os mesmo engenheiros e cientistas conseguirem emular consciência da sílica e dos microprocessadores -- e não digo que seja impossível -- será uma coisa totalmente nova, até mesmo alienígena.

A filosofia tem o poder de influenciar absolutamente todas as disciplinas do conhecimento humano. Certamente influencia a mim e minha pesquisa. É um campo de estudos que se vai tão fundo quando se desejar -- e que pode tomar uma vida toda. Eu entrei em filosofia sem necessariamente saber o que queria, mas saí de lá grato pela escolha que fiz. A cultura contemporanea, e a dissertação que ela me exige, me dá o suporte para investigar mais a fundo, fazendo um recorte específico do objeto de estudo, e me impedindo de fazer vôos de icaro que muitas vezes a filosofia pode dar a entender ser possível.

Com filosofia eu posso aplicar conhecimentos clássicos e responder (tentar pelo menos) sobre o que é humano e sobre o que não é. Com os estudos de cultura contemporanea posso conectar conhecimentos ainda de outros campos sem medo de estar cometendo algum pecado acadêmico. Eu tenho formação em geografia também, o que é muito bem vindo na analise dos aspectos epistêmicos da revolução da IA, e tenho estudos razoáveis em literatura, o que me permite observar o aspecto da criatividade do texto, aquilo que ele tem ou pode ter de único e que nenhum embbending de IA pode abarcar.

GIT é vida

tecnicalidades e como planejo fazer funcionar

Por causa da Thread no Reddit que mencionei antes descobri que o GIT e o markdown era a saída que eu buscava para produzir um texto verificado. Eis o plano:

  • Histórico de commits: Cada vez que eu fizer uma alteração em minha dissertação (em arquivos de texto Markdown, por exemplo), farei um "commit" no Git. Isso gera um registro claro e detalhado de cada mudança feita (autor, data e hora, além de uma mensagem curta que posso incluir). Se alguém questionar a autenticidade ou originalidade do trabalho, sempre poderei mostrar todo o histórico de commits, com datas, detalhes das alterações e comentários que descrevem o que foi modificado. Isso é muito mais robusto do que trabalhar com o Word ou Google Docs, onde é difícil acompanhar a evolução do conteúdo.
  • Granularidade: Posso fazer commits frequentes, capturando pequenas alterações, o que torna o histórico ainda mais detalhado. Essa prática também permite revisitar qualquer versão anterior do meu texto e mostrar como o trabalho evoluiu ao longo do tempo.
  • Como já sou familiarizado com Markdown (viva o Obsidian), já estou em vantagem. O Markdown é leve, fácil de usar e altamente compatível com Git. Para uma dissertação em desenvolvimento, Markdown pode ser estruturado de maneira muito eficiente, muito embora me tenha sido recomendado dar uma olhada no LaTeX (mas um problema de cada vez, e vou primeiro escrever em markdown antes de converter para LaTeX ) para dar o tratamento final (versão em normas ABNT e tal).
  • Ao manter todo o projeto versionado com Git, incluindo todas as edições intermediárias, é possível argumentar que o texto foi construído repetidamente sobre si mesmo, de forma incremental. Se eu usasse uma IA para gerar grandes partes do conteúdo, isso geralmente se refletiria em grandes mudanças em blocos inteiros de texto. Por outro lado, commits frequentes e granulares sugerem um processo de escrita manual e progressivo. Além disso posso usar branchs, ramificações de um tronco principal onde posso trabalhar em versões alternativas do texto sem interferir no fluxo principal. Se houver uma ideia nova ou um "estalo", crio uma branch* para desenvolver essa ideia, sem medo de prejudicar o trabalho principal.
  • No GitHub, posso também gerar relatórios do meu histórico de commits, ou usar plugins de terceiros que analisam o histórico e geram gráficos sobre a evolução do trabalho. Existem também ferramentas que registram automaticamente o tempo de edição e os intervalos entre commits (e.g., git hooks para monitorar atividades).
  • Ainda estou incerto sobre ferramentas comprovadamente úteis como LaTeX ou Zotero, mas que possuem uma curva de aprendizado íngreme, posso continuar usando Markdown para organizar meu conteúdo. Para citações, uma boa alternativa seria o BibTeX, que é compatível tanto com Markdown (via Pandoc, um plugin que literalmente converte um dado texto em qualquer outro tipo de texto).
  • A automação de certas partes do processo de escrita (como a reorganização de seções mencionada no thread do Reddit) também pode ser implementada usando scripts simples em Python, já que o Markdown é apenas texto puro. Eu poderia em tese criar scripts (com ajuda de IA porque, né, não sou desenvolvedor) que reorganizam capítulos ou substituem trechos, se achar necessário. Se vou fazer isso? Provavelmente não, mas é legal saber que é possível.

O uso de Git e Markdown, enfim, oferece um meio poderoso de gerenciar a autoria e a integridade do meu trabalho, especialmente no contexto atual de preocupações com IA. Isso não apenas facilita o processo de escrita, como também gera um histórico claro e transparente que pode ser útil em auditorias acadêmicas. Embora meu foco seja nas humanidades e temas interdisciplinares, a abordagem técnica (uso de Git, LaTeX, Markdown) é neutra em relação ao conteúdo. Eu posso continuar desenvolvendo minhas ideias com total liberdade filosófica e cultural, mas agora com uma camada de controle mais robusta sobre o processo de escrita, edição e gestão de conteúdo. Um repositório remoto e privado no Github resolve o problema de salvar na nuvem (claro, backups frequentes em um pen drive são necessários) e se preciso, até mesmo permite colaboração e visualização do repositório por parte do Orientador.

Isso tudo é hackeável? claro, como tudo, mas a que custo? Ninguém me pediu que provasse nada, e esse processo parte de mim. Além disso posso me assegurar que pelo menos alguns cenários sejam evitados partindo de algumas premissa básicas:

  1. Fazer commits frequentes e detalhados. (evitando cenário: Uso de IA Externa e Commit Retroativo)
  2. Evitar reescrita do histórico no GitHub. (evitando cenário: Manipulação de Históricos de Commits)
  3. Documentar rigorosamente seu processo criativo. (evitando cenário: Uso Intermitente de IA)
  4. Manter consistência nos dispositivos usados. (evitando o cenário "Uso de IA em Dispositivos Não Monitorados")

Concluindo (mais ou menos)

Meu trabalho ainda está engatinhando. Alguns dilemas precisam de atenção e muitas escolhas, milhares, estão sendo feitas enquanto esse texto ganha vida nos olhos do suposto leitor. Mesmo essa série de parágrafos foi gerada em um prompt que fiz via áudio para o claude (acesse aqui) -- talvez eu não me sentisse fortalecido ou confiante para começar do nada. Ou talvez isso já seja parte do projeto. Tenho tido problemas para focar no trabalho aqui em casa,e não é de hoje, por diversas distrações que vão de gatos, videogame, comida na geladeira e a cama chamando para uma soneca, e com fins de fazer alguma coisa produtiva esta tarde pedi à IA que fizesse essas questoes que agora respondo e que depois revisei e transformei em um texto de mais de 4 mil palavras (parabéns para você que chegou até aqui).

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